sábado, 1 de outubro de 2011

A DIFÍCIL ARTE DE OUVIR


por Artur da Távola

Um dos problemas cruciais da comunicação, tanto a de massa como a interpessoal, é este: como o outro ouve o que lhe é dito. Aqui registro uma constatação para o rol de estudos e debates a respeito: raras, raríssimas são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo; ou, então, raras são as pessoas que, ao menos, procuram ouvir.

Em geral não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que ele não está dizendo.

Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que se quer ouvir.

Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que já se escutara antes e o que se está acostumado a ouvir.

Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que se imagina que o outro ia falar.

Numa discussão, em geral, não se ouve o que o outro fala. Ouve-se quase que só o que se pensa para ser dito em seguida.

Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que se gostaria que o outro dissesse.

Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se apenas o que se está sentindo.

Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que já se pensava a respeito daquilo que o outro está falando.

Não se ouve o que o outro está falando. Retira-se da fala dele apenas as partes que tenham a ver com o ouvinte.

Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que confirme ou rejeite o próprio pensamento do ouvinte. Ou seja, transforma-se o que o outro está falando em objeto de concordância ou discordância.

Não se ouve o que o outro está falando. Ouve-se o que se possa adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio por quem está a falar.

Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se da fala dele apenas os pontos que possam fazer sentido para as ideias e pontos de vista que, no momento, nos estejam influenciando ou tocando mais diretamente.


Ouviu?

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